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Doodle de hoje homenageia gay português António Variações

 O doodle, aquela imagem da página inicial do Google, de hoje (03/12/2023) homenageia o cantor português António Variações, assumidamente gay, e referência nacional na cena LGBT+ de Portugal.

António Joaquim Rodrigues Ribeiro, conhecido por António Variações ComIH (Amares, Fiscal, Pilar, 3 de dezembro de 1944 - Lisboa, São Domingos de Benfica, 13 de junho de 1984), foi um cantor e compositor português do início dos anos 1980.

A sua discografia continuou a influenciar a música portuguesa nas décadas posteriores à sua precoce morte, aos 39 anos, deixando assim um legado para os tempos vindouros.

Biografia

António Ribeiro nasceu em Pilar, freguesia de Fiscal, no concelho de Amares. Filho dos camponeses Jaime Ribeiro e sua mulher Deolinda de Jesus Rodrigues, Tonito, como a mãe lhe chamava, tinha 11 irmãos e irmãs, embora dois deles tenham falecido muito cedo. 

A sua infância foi dividida entre os estudos e o trabalho no campo, para ajudar os pais. Jaime tocava cavaquinho e acordeão e foi a primeira inspiração de Variações, que desde cedo revelou a sua paixão pela música nas romarias e no folclore locais.

Aos 11 anos, teve o seu primeiro emprego, em Caldelas, e em 1956 partiu para Lisboa. Aí, trabalhou como marçano, enquanto à noite tirava o curso comercial na Voz do Operário. Trabalhará depois como caixeiro e empregado de escritório.

Seguiu-se o serviço militar em Angola, numa zona pacífica, do qual regressou em 1970, tendo então conhecido Fernando Ataíde, cabeleireiro no centro de beleza Ayer, onde trabalhou. 

Cabeleireiro

Viajou até Londres, onde viviam um irmão e uma irmã, e trabalhou num “colégio de computadores”. Em 1972 regressou a Lisboa, tendo ido viver com Fernando Ataíde. Em 1974, pouco antes do 25 de Abril, foi até Amsterdam (Holanda), tendo ali ficado um ano, a trabalhar como cabeleireiro, e a desenvolver a sua técnica de corte. 

Gostou muito de lá estar e sentiu-se liberto e consciente do caminho a seguir. Em 1976 juntou-se à equipa do primeiro salão unissexo que abriu em Portugal, dirigido por Isabel Queiroz do Vale. Em meados de 1979, abriu a sua própria barbearia, com o curioso nome de "É Pró Menino e Prá Menina", na Rua de São José.

Cantor

Entretanto, deu igualmente início aos espectáculos com o grupo Variações, atraindo rapidamente as atenções. Por um lado, o seu visual excêntrico não passava despercebido e, por outro, o seu estilo musical combinava vários géneros, como o rock, o pop, os blues ou o fado. Em 1978, apresentou-se à editora Valentim de Carvalho e assinou contrato.

Em entrevista, António Variações explicou o seu nome escolhido: "Variações é uma palavra que sugere elasticidade, liberdade. E é exactamente isso que eu sou e que faço no campo da música. Aquilo que canto é heterogéneo. Não quero enveredar por um estilo. Não sou limitado. Tenho a preocupação de fazer coisas de vários estilos."

A discoteca Trumps (existente até hoje) ou o Rock Rendez-Vous foram os locais onde Variações se apresentou ao público. Em 1981, sem ter até aí editado qualquer música, participou no programa de televisão de Júlio Isidro, O Passeio dos Alegres, tendo cantado o tema Toma um comprimido, com uma encenação muito extravagante. A sua música e o seu estilo próprio e inconfundível fizeram com que depressa alcançasse fama.

Editou o primeiro single com os temas "Povo que Lavas no Rio" de Amália Rodrigues (a sua maior referência), e "Estou Além". De seguida, gravou o seu primeiro LP, Anjo da Guarda com dez faixas, todas de sua autoria, onde se destacaram os êxitos "É p´ra Amanhã" e "O Corpo É que Paga".

Em 1984 lançou o seu segundo trabalho, intitulado "Dar e Receber", sendo a parte instrumental assegurada por alguns elementos da banda Heróis do Mar. A 22 de abril, Variações daria um concerto, na aldeia de Viatodos, concelho de Barcelos, durante as festas da "Isabelinha". Depois disso, aparece pela última vez em público no programa televisivo "A Festa Continua" de Júlio Isidro.

Morte precoce

Será a única interpretação na TV das faixas do novo disco, usando o mesmo pijama com ursinhos e coelhinhos que usou na sua primeira aparição televisiva. Variações cantou em Coimbra em 1984, no dia 17 de Maio, já gravemente doente.

Seus amigos e familiares deixaram de receber notícias do cantor, que ficou hospedado por alguns dias em casa do seu amigo Ataíde até ter sido levado para o Hospital Pulido Valente, em maio, devido a um problema brônquico-asmático.

Quando a música "Canção de Engate" invadiu as rádios, António Variações já se encontrava internado no hospital. Transferido para a Clínica da Cruz Vermelha, morreu em 13 de junho, vítima de uma broncopneumonia grave, decorrente da AIDS, segundo declaração posterior da sua agente artística da época. Foi sepultado no cemitério da terra natal, em Fiscal, Amares.

Vida pessoal

Apesar da sua imagem excêntrica, Variações era um homem tímido, simples e afável. Era de baixa estatura, 1,60 m, mas atlético, praticava diariamente cultura física e natação. Gostava de boa comida portuguesa: filetes com arroz, por exemplo. Não bebia álcool, nem fumava, nem se drogava. 

«A única compulsão era o sexo, que vivia de forma intensa, feroz, muitas vezes emocionalmente desligado. É a “aventura dos sentidos”, de que a sua Canção do Engate é paradigmática.» — escreve Manuela Gonzaga num artigo. Variações viveu alguns anos com Fernando Ataíde (falecido em 1985) e no final com Jelle Balder, actor holandês.

Homenagens

Vinte anos após a sua morte, em 2004 foi lançado um álbum em sua homenagem, com canções de sua autoria que nunca tinham sido editadas; sete conhecidos músicos portugueses formaram a "Banda Humanos" e gravaram 12 músicas seleccionadas de um conjunto de cassetes "perdidas" no património de Variações administrado pelo irmão, Jaime Ribeiro.

Há um busto de António Variações em Fiscal, Amares, desde 1998, de autoria do escultor Arlindo Fagundes. Há uma biografia de António Variações publicada em livro.

António Variações encontra-se perpetuado na cidade de Lisboa, numa rua localizada na actual freguesia do Parque das Nações, também em Amares o artista é homenageado, dando o seu nome a uma rua da freguesia de Ferreiros, ainda em Fiscal, o nome do conhecido filho da terra, é a designação da principal artéria da freguesia, a Avenida António Variações.

Dia 31 de Maio de 2014, o Palco Mundo do Rock in Rio Lisboa, abriu com uma homenagem a António Variações. Os músicos que participam nesta homenagem foram: Linda Martini, Gisela João, Rui Pregal da Cunha e Deolinda, recordando os 30 anos de morte do cantor e compositor que marcou a história da música portuguesa. 

A direção artística esteve a cargo do cantor e compositor Zé Ricardo e teve planeamento do jornalista Nuno Galopim. A elaboração do espetáculo foi acompanhada pela família do cantor. Segundo o músico Zé Ricardo, Director Artístico desta homenagem; “ A influência da música de Variações perdura até aos dias de hoje, e ele continua a ser recordado, com carinho, por todos os portugueses, como uma figura excêntrica que criou um estilo de música muito próprio.”

Em 2014, por ocasião dos 30 anos após a sua morte e 70 do seu nascimento, a Banda Filarmónica de Idanha-a-Nova prestou tributo a António Variações, o evento contou com a contribuição da família do artista, e a participação de Lena D'Água.

O tributo teve a participação de cerca de 90 intervenientes, entre os quais, estiveram os músicos da Filarmónica Idanhense que foram acompanhados vocalmente por Jaime Ribeiro e Luís Ribeiro (irmãos de António Variações), Jaime Rafael Ribeiro (sobrinho), Lena D'Água, (amiga pessoal e colega) e Rui Aziago, também cantor.

Em 2019, ano em que o cantor celebraria os 75 anos de vida, assinalaram-se várias iniciativas de celebração.

Em 29 de junho, num palco instalado nos jardins da Torre de Belém, o espetáculo "António & Variações" encerrou o programa das Festas de Lisboa. Acompanhados pela Orquestra Metropolitana de Lisboa, subiram ao palco Ana Bacalhau, Conan Osiris, Lena d´Água, Manuela Azevedo, Paulo Bragança e Selma Uamusse, para interpretarem 24 temas de António Variações. O concerto teve direção artística de Luís Varatojo, orquestrações de Filipe Melo, Filipe Raposo e Pedro Moreira e contou ainda com a participação do coro Gospel Collective e do acordeonista João Gentil.

Em 22 de agosto estreou o filme "Variações", com realização e argumento de João Maia, com Sérgio Praia a encarnar o personagem. Em 23 de agosto foi lançada a trilha sonora do filme, um disco de 10 temas de António Variações com arranjos de Armando Teixeira.

Em 17 de novembro de 2020, o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa condecorou, no Palácio de Belém, António Variações, a título póstumo, com o grau de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique, por alvará de 8 de novembro de 2019.

Em 2023 foi anunciado que a escola primária de Fiscal, onde António Variações estudou nos anos 50, vai ser transformada num Centro Interpretativo em homenagem ao cantor. A obra estará concluída em 2025.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_Varia%C3%A7%C3%B5es

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